sábado, abril 30, 2005
Homenagem a Florbela Espanca
Mistério
Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.
Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.
Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…
Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!
Que nos morresse nos braços!
(Florbela Espanca)
terça-feira, abril 26, 2005
A velhice
Quadro a óleo representando a velhice pintado por Quicas
A VELHICE
de
Maria Hilda de J. Alão.
Diante do espelho estanque
Mirando-se ele fica pasmo,
Pois a imagem parece um tanque,
Esmagando os olhos em mórbido marasmo.
O corpo já não mais resplandece
Tem baço o olhar terno
E o conjunto mais parece
Árvore em rigoroso inverno,
Cobrindo, da vida, a vastidão,
Com os anos que foram vividos,
Que deixaram, petrificadas no chão,
Marcas de amor pelos entes queridos.
Anda como animal de três patas.
Solitário, em cismas vive imerso,
Equilibrando sobre sapatas
Todo o conhecimento do universo
Simbolizado pelas rugas faciais,
Pelos seus cabelos que perderam a cor,
Mas, dentro de si, tem amor demais,
Para enfrentar a velhice sem dor.
segunda-feira, abril 25, 2005
Liberdade
LIBERDADE
Viémos com o peso do passado e da semente
esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
só se pode querer tudo quando não se teve nada
só quer a vida cheia quem teve a vida parada
só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
a paz o pão
habitação
saúde educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
Poema de Sérgio Godinho
Liberdade... sempre!
AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Poema de José Carlos Ary dos Santos
sábado, abril 23, 2005
Animação em Flash
Recordando "Fernando Pessoa" no Dia do Livro
..nas ruas da cidade de Lisboa
O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Fernando Pessoa
Bocage o "imortal "
Recordando sempre "Bocage o grande poeta"
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n' altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Dia mundial do livro --- Recordando "Bocage"
Bocage e as suas ninfas
Nascemos para amar: a Humanidade
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura;
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.
Enleia-se por gosto a liberdade
E depois que a paixão n'alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.
Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.
Amor ou desfalece, ou pára, ou corre,
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre
quinta-feira, abril 21, 2005
Alguns e nós
Alguns e nós
Nunca influenciaremos a todos,
Mas sempre influenciaremos alguns.
Reflictamos no assunto,
Revendo o que transmitimos.
A descrença suscita a descrença,
A dúvida gera a dúvida.
O desânimo sugere o desânimo,
A tristeza espalha a tristeza.
A fé atrai a fé,
A esperança acende a esperança.
A bondade cria a bondade,
O amor estende o amor.
EMMANUEL
Médium: Francisco C. Xavier
Texto autorizado pelo site A Jangada
segunda-feira, abril 18, 2005
O nosso fiel " Amigo"
Bacalhau à ConfrariaConfraria
Gastronómica de S. Gonçalo
(Com a colaboração da Confraria Gastronómica do Bacalhau)
Ingredientes:
bacalhau
alhos
azeite
sumo de limão
ovos
pão ralado
azeitonas
presunto
azeite
salsa picada
batatas
Confecção:
Depois das postas de bacalhau demolhadas, escorrem-se e escaldam-se.
A seguir temperam-se com dentes de alho picado, azeite sumo de limão,
passando-as uma a uma por farinha, ovo batido e pão ralado.
Num tabuleiro, dispõem-se cebolas às rodelas sobre as postas de bacalhau,
umas ao lado das outras e regam-se com mais azeite.
A seguir levam-se ao forno a (170ºC) durante cerca de 30 minutos,
regando-se com o próprio molho até o bacalhau ficar lourinho.
Entretanto, fritam-se algumas fatias de presunto em óleo quente.
Depois de tudo pronto o bacalhau é servido com o presunto frito
e é acompanhado com batatas às rodelas e azeitonas, polvilhando-se
tudo com salsa picada, sendo acompanhado o prato com uma boa salada.
Acompanhe com Dão Quinta da Murqueira Branco Reserva 2000
Algarve maravilhoso
Pintura a óleo por Quicas
Aqui
Aqui nasci aqui habito
aqui fizeramque fosse o meu lugar.
Aqui entre paredes me limito
à condição daquilo que me deram
na casa onde morar.
Daqui vejo uma pomba atrás do espaço
procurando entre as asas capturá-lo.
Aqui tento encontrar-me no que faço
aqui furando o medo acerto o passo
com os outros com quem a medo falo.
Aqui nasci aqui habito
aqui puseram
este meu corpo sem me consultar.
Mas é também daqui que lanço o grito
de que ninguém me há-de calar.
Torquato da Luz
("Voz Suspensa", 1970)
domingo, abril 17, 2005
sábado, abril 16, 2005
O neto entre portas "Azulejos"
Azulejos pintados por Quicas Resistir Para o que der e vier sigo a tua legenda: resistir. Mas já me assalta a dor de não saber se hei-de ficar se hei-de partir. Nada do que sonhámos se cumpriu e o tempo animal veloz vai deixar o vazio onde devíamos ser nós. É muito fácil desenhar o destino à medida. Difícil é conformar o desenho e a vida. Torquato da Luz |
sexta-feira, abril 15, 2005
Algarve rochas de Lagos
Quadro pintado a óleo por Quicas
MAR SEM FIM
Observo o caminho percorrido, longo e difícil
Estanco no alto da montanha para admirar a paisagem
Para trás deixei estórias, amores, muitas saudades
Agora resta o caminho à frente, é um mar sem fim
Um mar de esperanças e dificuldades
Com certeza de alegrias e novas amizades
Mas no meu coração pulsa uma imagem...
Revejo gestos, ouço palavras carinhosas
Um olhar que misteriosamente ainda me encanta
Uma personalidade que em mim permanece e anda
Pelos caminhos do meu coração que não se cansa
De relembrar, de sonhar com as suas formas e a sua alma.
Marcel de Alcântara
domingo, abril 10, 2005
Fumar mata
Ligue o som, carregue na imagem,
veja a super-divertida animação
e fique a pensar em deixar o cigarrinho...
.......................
sábado, abril 09, 2005
Sua Santidade João Paulo II
Adeus João Paulo II
Morreu Karol Jóseph Wojtyla. Tinha 84 anos e presidia ao Vaticano desde 1978
O Papa João Paulo II morreu este sábado às 21h37, hora de Itália, 20h37 em Lisboa. O anúncio foi feito pelo Vaticano. É um nome que fica na História. Um Homem que fez História. João Paulo II morreu hoje, aos 84 anos, depois de uma vida ensombrada pela doença de Parkinson. Viajou para onde mais nenhum papa teve coragem de viajar. Falou do que poucos arriscaram falar. Foi alvejado, mas sobreviveu. Acreditou sempre que foi "a senhora de branco" que o salvou. A ligação a Fátima é, por isso, indiscutível. Conseguiu cumprir três grandes sonhos: ajudou ao fim do comunismo na Europa de Leste, entrou no terceiro milénio e visitou a Terra Santa. Por cumprir, ficou o desejo de visitar a Rússia.
sábado, abril 02, 2005
Apostolo corajoso da paz e do amor
O pensamento lúcido, profundo e desassombrado de João Paulo II constitui um legado tão valioso como inapagável.Aqui deixamos algumas frases:" A vontade de Deus é a unidade de toda a humanidade dispersa. Acreditar em Deus significa querer a unidade" (carta enciclica, 1995)" A grande causa da paz entre os povos tem necessidade de todas as energias latentes no coração do homem" (Roma,1996)" compreendi o que é a exploração e coloquei-me de imediato ao lado dos pobres, desfavorecidos, oprimidos e indefesos. Os poderes deste mundo nem sempre aceitam um Papa assim"
sexta-feira, abril 01, 2005
Loucura de Florbela Espanca
Loucura
Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada Pavorosa!
Não sei onde era dantes.
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!...
Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!...
Pesadelos de insônia, ébrios de anseio!
Loucura a esboçar-se, a enegrecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!
Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!
Florbela Espanca