terça-feira, janeiro 23, 2007

Rafael Bordalo Pinheiro



Em 1875, o genial caricaturista, retratando a sociedade portuguesa do tempo, cria uma das suas mais conhecidas personagens: O Zé-Povinho. Símbolo do "ignorante, servil, boneicheirão, com a sua albarda e o seu riso soez".
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Era a imagem da raia-miúda portuguesa (J.Augusto-França), explorada por políticos corruptos e incompetentes. Ainda hoje esta personagem continua a ser evocada, quando se pretende criticar certos comportamentos colectivos estúpidos e alarves face à sociedade e a política.
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João Medina (JL de 2-15 Março de 2005) escreveu: Emblema do modo de ser português, conformista, conformado, apático, resignado, incapaz de transcender esse pesadelo monótono chamado História. Talvez por essa razão a passagem dos anos não faça envelhecer o Zé, já que ele resiste, passivamente como é o seu sestro, a todas as mudança e metamorfoses da realidade (...).

Rafael veio morrer a Lisboa, de propósito necessário, tendo assanhado bronquite no Porto, onde fora tratar do Entrudo dos Fenianos, para ganhar a vida. Teve que regressar à pressa, no rápido da noite, mas para a cama donde já não se levantou. Sequer para vir à janela respirar os ares, olhar os azulejos da vizinhança, a pracinha de duas árvores tristes... Sábado ainda melhorou, riu-se com o mano médico, mas na manhã de domingo veio-lhe um febrão, e o delírio da agonia - cheio de gente, de cenas, de quadros, de imagens de Maria já morta, de aflições pelas dívidas da fábrica... Chamou então pelo filho, que veio correndo junto da mãe Elvira, ele frágil como sempre fora, ela pesada de um amor antigo. às 3 da manhã apagou-se; o irmão, de novo chamado, chegou tarde já. Vestiram-lhe a sobrecasaca de bandas de seda, o velho gato Pires rondava triste, o prior do Sacramento veio também, que admiradores ele tinha até no céu, necessáriamente. O Zé Povinho ia no cortejo, multiplicado, vestido assim e assado, entre o popular e o funcionário da «coisinha certa», o pedinte e o marialva. A última vez que o vira estava ele mijando tranquilamente, para apagar o modesto vulcão da pátria, entre outros pelo mundo fora de outra história.
Em 23 de Janeiro de 1905, Rafael Bordalo Pinheiro morre em Lisboa, com 59 anos de idade.

Fonte aqui

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