domingo, março 09, 2008

Antero de Quental "A Uma Mulher"


A Uma Mulher

*
Para tristezas, para dor nasceste.

Podia a sorte pôr-te o braço estreito
Nalgum palácio e ao pé de régio leito,
Em vez deste areal onde cresceste:
*
Podia abrir-te as flores - com que veste

As ricas e as felizes - nesse peito;
Fazer-te... o que a Fortuna há sempre feito...
Terias sempre a sorte que tiveste!
*
Tinhas de ser assim... Teus olhos fitos,

Que não são deste Mundo e onde eu leio
Uns mistérios tão tristes e infinitos,
*
Tua voz rara e esse ar vago e esquecido,

Tudo me diz a mim, e assim o creio,
Que para isto só tinhas nascido!
*
in «A Geração de 70» Sonetos de Antero de Quental,

prefácio de Oliveira Martins,
Circulo de Leitores, 1987

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