De coincidência em incoincidência (António Ramos Rosa)
É um quadrado quase perfeito
Em que a luz incide duramente
- uma sombra aguçada e lisa acompanha
o gesto de escrever. Ausência.
Mais exacta, mais viva
a sombra da mão e do lápis
forma um conjunto menos suspeito,
de uma harmonia subjacente.
A coincidência da ponta do lápis
com a ponta da sombra do lápis
convida a uma coincidência de todos os pontos
da incoincidência vasta em que escrevo.
Ilusão de uma perfeita justiça,
ilusão dum amor recto como o mármore,
tentação dum espelho claro, inflexível.
Não como um espelho,
mas com a lisura e a tranquilidade do espelho.
Alto ou largo ou baixo, imóvel,
não para passear ao longo duma estrada,
mas fragmento de uma turbilhão contido.
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