A ausente (Vinicius de Moraes)
Amiga, infinitamente amiga,
em algum lugar, o teu coração bate por mim,
em algum lugar, os teus olhos fecham-se à ideia dos meus,
em algum lugar, as tuas mãos crispam-se, os teus seios
enchem-se de leite, tu desfaleces e caminhas,
como que cega, ao meu encontro…
Amiga, última doçura,
a tranquilidade suavizou a minha pele
e os meus cabelos. Só o meu ventre
te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga,
a minha nudez é absoluta,
os meus olhos são espelhos para o teu desejo
e o meu peito é uma tábua de suplícios.
Vem. Os meus músculos estão doces para os teus dentes
e áspera é a minha barba. Vem mergulhar em mim,
como no mar, vem nadar em mim, como no mar,
vem afogar-te em mim, amiga minha,
em mim, como no mar…
Sem comentários:
Enviar um comentário