domingo, novembro 13, 2005

Manuel Pinheiro Chagas



Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (1842-1895) nasceu em Lisboa. Frequentou o Colégio Militar, a Escola do Exército e a Escola Politécnica. As suas obras tiverem êxito imediato, êxito este que não se repercutiu após a morte do autor, sendo praticamente esquecido. Para isso muito contribuíram as polémicas entre ele e Eça de Queirós.

POEMA DA MOCIDADE

O PRIMEIRO BEIJO

Primeiro beijo, perfumado, ardente
Primeira estrofe da gentil canção,
Que, em doidas horas de prazer
fervente,
A flor dos lábios vem dizer «paixão!»

Ténue murmúrio, a suspirar carícias!
Aéreo sopro respirando ardor!
Meigo prefácio dessas mil delícias
Do gosto etéreo dum primeiro amor!

Beijar, a furto uma boquinha airosa,
Fugir, ceder à tentação fatal,
Bem como a abelha a voltear medrosa
Por entre as rosas do gentil rosal,

Que poisa, e suga a perfumada essência
Da flor tremente dum gozar sem sim;
Roubar assim, d'almo prazer de ardência
A puros lábios virginal carmim!

É sonho louco de ventura e enleio!
É ver nas trevas o esplendor do céu!
De casta virgem pudibundo seio
Palpita, rasga da inocência o véu!

Os lábios tremem da gentil donzela,
Refogem, voltam de delírio a arfar!
Oh! nessas horas amorosa estrela
Inunda a vida de fulgor sem par!

Depois extingue-se a visão brilhante;
Voltam as trevas, quando morre a luz,
Finda o romance da existência amante
Da fria campa em solitária cruz!

Pinheiro Chagas

http://web.ipn.pt/literatura/realista.htm

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