segunda-feira, novembro 26, 2007

Florbela Espanca


VOZES DO MAR
*
Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...
*
Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?
*
Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!
*
Donde vem essa voz, ó mar amigo?......
Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!
*
Florbela Espanca

Poesia Completa
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000

domingo, novembro 25, 2007

Um belo poema para Domingo

Rosa pálida, em meu seio
Vem querida, sem receio
esconder a aflita cor.
Ai! a minha pobre rosa!
Cuida que é menos formosa
*
Porque desbotou de amor.
Pois sim... quando livre, ao vento,
Solta da alma e pensamento,
Forte de sua isenção.
Tinhas na folha incendiada
O sangue, o calor e a vida
Que ora tens no coração.
*
Mas não era, não, mais bela,
Coitada, coitada dela,
A minha rosa gentil!
Curvavam-na então desejos,
Desmaiam-na agora os beijos...
Vales mais mil vezes, mil.
*
Inveja das outras flores!
Inveja de quê, amores?
Tu, que vieste dos céus,
Comparar tua beleza
Às folhas da natureza!
Rosa, não tentes a Deus.
*
É vergonha... de quê, vida?
Vergonha de ser querida,
Vergonha de ser feliz!
Porquê? Porquê em teu semblante
A pálida cor da amante
A minha ventura diz?
*
Pois, quando eras tão vermelha
Não vinha zangão e abelha
Em torno de ti zumbir?
Não ouvias entre as flores
Histórias de mil amores
Que não tinhas, repetir?
*
Que hão-de eles dizer agora?
Que pendente e de quem chora
É o teu lânguido olhar?
Que a tez fina e delicada
Foi de ser muito beijada,
Que te veio a desbotar?
*
deixa-os: pálida ou corada,
Que isenta ou namorada,
Que brilhe no prado flor,
ue fulja no céu estrela,
Ainda é ditosa e bela
Se lhe dão só um amor
ALMEIDA GARRET (1799-1854)

sexta-feira, novembro 23, 2007

A arte de ser feliz


Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam
de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
*
Autor: Cecília Meireles

quarta-feira, novembro 21, 2007

Acordar é viver



Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
*
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
*
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
*
Ninguém responde, a vida é pétrea.

Autor: Carlos Drummond de Andrade

domingo, novembro 18, 2007

A história de uma Rosa

A história de uma rosa

Era uma vez uma Rosa,
Encantava toda gente,
Era bonita e cheirosa,
Desapareceu de repente.
*
Quem por ela passada,
Não ficava indiferente,
À sua corola aveludada,
E perfume permanente.
*
Mas eis que certo dia,
Ao entrar nesse portão,
Foi-se a minha alegria
E doeu-me o coração.
*
A Rosa de linda vista,
Ainda de tenra idade,
Foi vítima de egoísta,
Anónimo desta cidade.`
*
Uma, duas ou três,
As vezes que a vi,
Até que certa vez,
Fotografei-a, está aqui..
*
Que feliz inspiração,
Foi aquele momento,
Ditou o meu coração,
E agiu o pensamento.
*
Agora para te ver,
Recordar com amor,
Basta o meu querer,
E abrir o computador.
*
A. Feliciano 28-09-2007
(Uma história verdadeira)

quinta-feira, novembro 15, 2007

without hand, he without leg - ballet - Hand in Hand


Não deixem de ver.
É uma maravilha, não só pela arte, mas
principalmente, pela mensagem que encerra.
Ela sem mão. Ele sem perna.

domingo, novembro 11, 2007

11 de Novembro -- Dia de S. Martinho


Dia de S. Martinho
Lenda do Verão de S. Martinho
"O Verão de São Martinho é bom mas é curtinho"
:
Num dia tempestuoso ia São Martinho, valoroso soldado, montado no seu cavalo, quando viu um mendigo quase nu, tremendo de frio, que lhe estendia a mão suplicante e gelada. S. Martinho não hesitou: parou o cavalo, poisou a sua mão carinhosamente na do pobre e, em seguida, com a espada cortou ao meio a sua capa de militar, dando metade ao mendigo. E, apesar de mal agasalhado e de chover torrencialmente, preparava-se para continuar o seu caminho, cheio de felicidade. Mas, subitamente, a tempestade desfez-se, o céu ficou límpido e um sol de Estio inundou a terra de luz e calor. Diz-se que Deus, para que não se apagasse da memória dos homens o acto de bondade praticado pelo Santo, todos os anos, nessa mesma época, cessa por alguns dias o tempo frio e o céu e a terra sorriem com a benção dum sol quente e miraculoso


Foto de Pedro Vasconcelos
:
Dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho
::
Pelo sinal
Bico real
Comi castanhas
Fez-me mal
Se mais houvesse
Mais comia
Adeus compadre
Até outro dia
:
(lengalenga popular para o dia de S. Martinho)


sexta-feira, novembro 02, 2007