domingo, fevereiro 25, 2007

Cesário Verde (1855-1886)

Morto prematuramente, foi curta a obra que nos deixou. No entanto, o carácter ousado de um realismo lírico e prosaico confere à sua poesia importância determinante no contexto da segunda metade do séc. XIX e perspectivando já algumas vertentes da modernidade do séc. XX.
Trabalhador na loja de ferragens de seu pai em Lisboa, viveu, a espaços, o ambiente rural de uma quinta familiar em Linda-a-Pastora. Dessas vivências resulta o profundo conhecimento da dictomia campo-cidade, patente numa poesia repleta de motivos populares e na utilização verbal dos objectos mais triviais.
Postumamente os seus poemas foram reunidos por Silva Pinto em colectânea a que atribuíu o título de ‘O Livro de Cesário Verde’"
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Manias!
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O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
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Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.


Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

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