quarta-feira, junho 11, 2008

Acordar, Viver


Acordar, Viver

Como acordar sem sofrimento?

Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
*
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?
*
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?
*
Ninguém responde, a vida é pétrea.
*
Autor: Carlos Drummond de Andrade



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