segunda-feira, abril 25, 2005

Liberdade... sempre!



AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.


Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras


um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.


Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado


onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado


onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.


Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado


pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado


que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.


Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras


vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.


Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões


um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.


Poema de José Carlos Ary dos Santos

2 comentários:

Anónimo disse...

Farto-me de rir com essa do "25 de Abril".
Trata-se de uma impossibilidade.
Basta lembrar-me que o calendário (fascista, pelos vistos) obriga a que amanhã seja 26...

Anónimo disse...

É claro que me refiro a "25 de Abril, sempre!"