domingo, abril 09, 2006

À Morte de uma Dama!



Sombras de um claro sol que me abrasava,
Cinzas de um doce fogo aonde ardia,
Ruínas de uma boca em que vivia,
Cadáver de uma vida que adorava,

Quem te trocou, senhora? O tempo estava
A teus pés, em teu rosto o sol nascia,
De tua vista se compunha o dia,
De tua ausência a noite se formava.

Pois como pôde o tempo pressuroso,
O dia breve, a noite fugitiva
Mudar um corpo e rosto tão fermoso?

Mas tanto sol e luz, tão excessiva
Ardendo de contínuo, era forçoso
Trocar-se em cinza morta a flama viva

António Barbosa Bacelar (1610-1663) nasceu em Lisboa de uma família remediada, frequentando o Colégio de Santo Antão e indo depois estudar Direito para Coimbra.
Tendo-se dedicado à magistratura, foi corregedor em Castelo Branco, provedor em Évora, desembargador no Porto e magistrado na Casa da Suplicação em Lisboa. A par do trabalho no âmbito da justiça, dedicou-se à escrita, nomeadamente à historiografia e à poesia. Dentro da historiografia, escreveu a Relação Diária do Sítio e Tomada da Forte Praça do Recife, publicada em Lisboa em 1654, a Relação da Vitória que Alcançaram as Armas do Muito Alto e Poderoso Rei D. Afonso VI, em 14 de Janeiro de 1609, Uma e Outra Fortuna do Marquês de Montalvor, D. João de Mascarenhas e a Vida de D. Francisco de Almeida. A sua obra poética está essencialmente publicada na Fénix Renascida.

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