terça-feira, agosto 21, 2007

Recordar "Alexandre O'Neill "

E de novo , Lisboa

E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro vermelho que te molha.
*
Sangue na serradura ou na calçada,
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.
*
Groselha, na esplanada, bebe a velha,
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?
*
Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?
*
Alexandre O´Neill
Poesias Completas1951/1981
Biblioteca de Autores Portugueses
Imprensa Nacional Casa da Moeda

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