1923 – Nasce na Póvoa de Atalaia (Beira Baixa), no dia 19 de Janeiro, o futuro poeta Eugénio de Andrade, a quem foi posto o nome civil de José Fontinhas, rapidamente eclipsado pelo pseudónimo com que assinou todos os seus livros, desde "Adolescente", em 1942.
A mãe, evocada em tantos dos seus poemas, chamava-se Maria dos Anjos. O pai, oriundo de uma família rural abastada, era Alexandre. Só bastante depois do nascimento do filho é que vieram a casar-se, mas o matrimónio durou pouco. Durante décadas, Eugénio rasurou a figura do pai. Numa entrevista que deu ao PÚBLICO no início dos anos 90, designa-o, ironicamente, como "o senhorito do Monte da Ribeira da Orca". Quando este, finalmente, decide perfilhá-lo, Eugénio recusa.
Adeus
Como se houvesse uma tempestade
Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve - e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.
Como se a noite se viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
Digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou, se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.
(Eugénio de Andrade)
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