Há sete anos que vivo com eles e cada vez os entendo menos.
Ao princípio, deixavam-me todo o dia deitado, quase às escuras e quando chegavam com as suas caras gigantes sobre mim, faziam caretas, diziam coisas sem sentido e só ficavam satisfeitos quando eu me ria. Às vezes nem me apetecia nada!
Eu, não sabia falar, só sabia chorar, mas quando lhes pedia alguma coisa nunca percebiam. Uma vez chorei porque tinha sede e levaram-me ao médico!
Depois cada coisa que eu aprendia a fazer, tinha que a repetir mil vezes, a cada gigante novo que aparecesse. Eu não conhecia aquelas pessoas enormes, nem me apetecia fazer aquelas coisas todas, que não vinham nada a propósito, mas se eu não fizesse, os meus pais ficavam com um ar muito triste e inventam mil desculpas_ tem sono, não comeu, está cansado…enfim!
Mas tudo bem! Falavam, discutiam, gritavam todos ao mesmo tempo_ que os adultos são muito barulhentos_ mas comigo tudo bem, estavam sempre contentes. Pegavam-me ao colo, enchiam-me de carinhos e diziam até que eu era a coisa mais linda do mundo.
Tinha o pressentimento que este país das maravilhas iria durar pouco tempo e logo que comecei a dizer e fazer o que me apetecia estraguei tudo. Falava quando devia estar calado e estava calado quando devia falar; mexia-me quando devia estar quieto e estava quieto quando queriam que me mexesse. Aborreciam-se comigo e a maior parte das vezes eu nem percebia porquê.
Porque é que os adultos podem fazer tudo__ mesmo mal feito_ e têm sempre razão?
Para mim, tudo parece simples: o que é branco é branco e o preto será sempre preto. Os adultos complicam tudo, não sei para quê!
Eu tenho a certeza que o mar, as flores, os pássaros, são lindos não se devem destruir, tenho a certeza que a fome, a guerra, a violência, são horríveis e devem ser evitadas. Os adultos fazem do mundo uma confusão e depois queixam-se, zangam-se e culpam-se uns aos outros.
Se a paz é a melhor coisa, porque é que gastam tanto dinheiro, tanto trabalho, tantas pessoas na guerra? Será que eles sabem?
Também não concordo que nos obriguem a fazer o que não são capazes de fazer. Andam sempre a dizer-nos _ não deves fazer isto, não deves fazer aquilo_ mas quando se distraem só fazem o que não queriam que nós fizéssemos. Esquecem-se que nós vemos, ouvimos e percebemos muito mais cedo e muito melhor do que pensam e tratam-nos mais como se fossemos bonecos do que como verdadeiras pessoas que somos embora crianças.
Gostava de crescer depressa, ser grande, ser forte, saber muitas coisas, mas não gostava de ser como muitos adultos que eu conheço.
Eles ligam-nos pouco, mas nós crianças sabemos muita coisa, que podiam aprender ou talvez lembrar connosco.
Se os adultos fossem todos uns para os outros como nós as crianças somos, seriam mais felizes, tenho a certeza.
Porque não deixam de ser “crianças” e aprendem de facto a ser como as CRIANÇAS?
Drª Aldina Maria
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