domingo, julho 17, 2005

Homenagem a Cesário Verde!


Arrojos
Se a minha amada um longo olhar me desse

Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos mignonnes e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o nome das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas pernas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas
Eu ergueria os vales mais profundos
E abalaria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.

Cesário Verde ( Poesias dispersas)

Sem comentários: